Toda vez que passo em frente ao prédio onde morei quando era pequena tenho o impulso de parar e perguntar se tem algum apartamento pra vender ou alugar. Não estou procurando imóvel, isso seria só uma desculpa pra visitar o lugar onde vivi dos 6 aos 13 anos. Dias atrás, uma placa pregada no portão do prédio me fez encostar na primeira vaga que surgiu. Estacionei, mas não saí do carro. Não sei quanto tempo fiquei ali, olhando pra portaria onde eu e a “melhor amiga” do 6º andar montávamos uma banquinha improvisada com pilhas de gibis velhos. A gente passava a tarde oferecendo as revistinhas pela metade do preço pra quem passasse pela calçada. Adélia era uma ótima vendedora! Por onde andará essa minha primeira sócia? Depois olhei para o terceiro andar e entrei pela janela no quarto da minha mãe, adivinhando a grande penteadeira com espelho na parede à esquerda, a cama de madeira bem em frente, a porta do banheiro no meio da outra parede, “disfarçada” entre as portas dos armários embutidos... Fui até a sala, sentei no sofá verde de pés palito, abri a tampa do piano preto e parei na frente de um quadro que sempre achei triste -- uma praia escura e deserta, presa numa moldura dourada horrorosa. De repente, pensei: será que a sala é mesmo tão grande quanto a da minha memória? E então perdi a coragem de ir em frente. Porque o mundo inteiro cabia dentro daquele apartamento, e também no quintal da minha avó e no pátio da escola, lugares que vão continuar sendo do tamanho do meu mundo de menina.
Silvana Tavano
quarta-feira, 16 de março de 2011
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10 comentários:
Memorável!!!
Beijos meus...
Olá amiga! viajei junto na sua memória...e te garanto vi tudo com muita clareza!! às vezes algumas lembranças nos impedem de entrar em alguns lugares, só para ter a certeza de que tudo ainda está lá do mesmo jeito...e acredite amiga, está! em uma outra dimensão...vivendo tudo de novo!!
Bom lembrar...
Bom reviver...
Abraços
Lhú Weiss
Olá Silva
Por incrível que pareça, sexta feira vai sair em meu blog, um texto que aborda exatamente esse assunto. Cheio de nostalgia. Adorei.
Bjux
eu ja voltei a lugares da infancia.. e como encolheram!!!
Adorei o texto, viagei também. Um abraço.
Lindo o texto.. Nostálgico! Bju
que lembrança boa... quase que mexi nos bolsas querendo uma dessas revistas comprar.
Denise
não tem como não dizer
...viajei...
vivi teus momentos e lembrei dos meus.
Ah!! se a saudade nos levasse "realmente" de volta....
Será que voltaríamos???
Belo texto!
Me vejo algumas vezes assim parada em algum canto de mim, observando aquele quadro e pincelando a cor daquela saudade.
Abraço..
Fé Fraga.
http://mefaltaumpedacoteu.blogspot.com
Voltei aqui porque achei isto e me lembrei de vc:
De vez em quando, eu sinto uma saudade imensa de um lugar que não sei onde é, mas que, de alguma maneira, eu sei que existe. Não consigo vê-lo, é uma saudade diferente, sem imagens. Não tenho a mínima idéia se lá tem praça, se lá tem bosque, se lá tem mar. Há uma espécie de neblina que impede os meus olhos de alcançá-lo.
Ana Jácomo
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