domingo, 28 de fevereiro de 2021
sábado, 27 de fevereiro de 2021
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021
terça-feira, 23 de fevereiro de 2021
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021
domingo, 21 de fevereiro de 2021
sábado, 20 de fevereiro de 2021
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021
PLUTÃO - OLAVO BILAC
Negro, com os olhos em brasa,
Bom, fiel e brincalhão,
Era a alegria da casa
O corajoso Plutão.
Fortíssimo, ágil no salto,
Era o terror dos caminhos,
E duas vezes mais alto
Do que o seu dono Carlinhos.
Jamais à casa chegara
Nem a sombra de um ladrão;
Pois fazia medo a cara
Do destemido Plutão.
Dormia durante o dia,
Mas quando a noite chegava,
Junto à porta se estendia,
Montando guarda ficava.
Porém Carlinhos, rolando
Com ele às tontas no chão,
Nunca saía chorando,
Mordido pelo Plutão...
Plutão velava-lhe o sono,
Seguia-o quando acordado:
O seu pequenino dono
Era todo o seu cuidado.
Um dia caiu doente
Carlinhos... junto ao colchão
Vivia constantemente
Triste e abatido, o Plutão.
Vieram muitos doutores,
Em vão. Toda a casa aflita,
Era uma casa maldita,
Era uma casa de dores.
Morreu Carlinhos... A um canto,
Gania e ladrava o cão;
E tinha os olhos em pranto,
Como um homem, o Plutão.
Depois, seguiu o menino,
Seguiu-o calado e sério;
Quis ter o mesmo destino;
Não saiu do cemitério.
Foram um dia à procura
Dele. E, esticado no chão,
Junto de uma sepultura,
Acharam morto o Plutão.
terça-feira, 16 de fevereiro de 2021
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021
Alma serena e cata que eu persigo. (Lembranças de Célia Pereira)
"Alma serena e
casta, que eu persigo
Com o meu sonho de amor e de pecado,
Abençoado seja abençoado
O vigor que te salva e é meu castigo.
Assim desvies sempre do meu lado
Os teus olhos; nem ouças o que eu digo;
E assim possa morrer, morrer comigo
Este amor criminoso e condenado.
Sê sempre pura! Eu com denodo enjeito
Uma ventura obtida com teu dano,
Bem meu que de teus males fosse feito".
Assim penso, assim quero, assim me engano...
Como se não sentisse que em meu peito
Pulsa o covarde coração humano.
Vicente de Carvalho
domingo, 14 de fevereiro de 2021
Que é - Simpatia - (Lembranças de Célia Pereira)
O QUE É - SIMPATIA
(A uma menina)
Simpatia - é o sentimento
Que nasce num só momento,
Sincero, no coração;
São dois olhares acesos
Bem juntos, unidos, presos
Numa mágica atração.
Simpatia - são dois galhos
Banhados de bons orvalhos
Nas mangueiras do jardim;
Bem longe às vezes nascidos,
Mas que se juntam crescidos
E que se abraçam por fim.
São duas almas bem gêmeas
Que riem no mesmo riso,
Que choram nos mesmos ais;
São vozes de dois amantes,
Duas liras semelhantes,
Ou dois poemas iguais.
Simpatia - meu anjinho,
É o canto do passarinho,
É o doce aroma da flor;
São nuvens dum céu d'Agôsto,
É o que m'inspira teu rosto...
- Simpatia - é - quase amor!
sábado, 13 de fevereiro de 2021
O tempo - Olavo Bilac ( Lembranças de Célia Pereira)
Sou o Tempo que passa, que
passa,
Sem princípio, sem fim, sem medida!
Vou levando a Ventura e a Desgraça,
Vou levando as vaidades da Vida!
A correr, de segundo em
segundo,
Vou formando os minutos que correm…
Formo as horas que passam no mundo,
Formo os anos que nascem e morrem.
Ninguém pode evitar os meus
danos…
Vou correndo sereno e constante:
Desse modo, de cem em cem anos,
Formo um século, e passo adiante.
Trabalhai,
porque a vida é pequena,
E não há para o Tempo demoras!
Não gasteis os minutos sem pena!
Não façais pouco caso das horas!
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021
O velho professor - Lembranças de Célia Pereira
O
VELHO PROFESSOR
Andava muito doente
o velho professor...
Por isso, ele não
tinha agora o mesmo ardor,
que outrora o
possuía e que o animava dantes.
Às vezes, quando em
aula, havia mesmos instantes
em que inclinava a
fronte (aquela fronte austera
onde já desbotara a
flor da primavera)
e cochilava um
pouco, involuntariamente.
O velho professor
andava muito doente.
Era, porém, tamanho
o bem que nos queria
que jamais quis
pedir aposentadoria
e manter-se do
Estado, à custa dessa esmola.
Era sempre o
primeiro a aparecer, na escola,
com joviais
maneiras, tão simpáticas,
não obstante sentir
umas dores reumáticas
que o faziam sofrer
muito, ultimamente.
O velho professor
andava muito doente...
Um dia ele chegou
mais tarde, alguns momentos.
Trazia nas feições
sinais de sofrimentos...
A palidez do rosto,
os olhos encovados
denunciavam seus
pesares ignorados.
E, como para tornar
a dor mais manifesta,
cravara-se-lhe
fundo uma ruga na testa.
Franzia-lhe o rosto
uma expressão de dor,
Andava muito doente
o velho professor.
A aula
começou... mas, pouco depois das onze,
o velho
mestre, o bom trabalhador de bronze,
(que já perto
de trinta anos ou mais, havia
que -
gigantesco herói - lutava dia a dia,
para a glória da
pátria e para o bem da infância,
dando batalha ao
vício e combate a ignorância)
sentindo de uma dor
os agudos abrolhos,
curvou as nobres
cãs, cerrou de leve os olhos.
Fora fulgia o sol.
A manhã era calma.
Sorrindo, a
natureza abria a sua alma
repleta de alegrias
e cheia de esplendores.
Pela janela aberta,
entrava o hálito das flores;
em toda a atmosfera
azul, lavada e fina,
ressoava baixinho,
assim como em surdina,
um canto celestial,
harmonioso e suave,
anjos tocando, em
harpa, alguma canção de ave.
Nisto ergueu-se um
aluno, um pândego, um peralta
fabricou de um
jornal um chapé de copa alta,
e bem devagarinho
(oh! que idéia travessa)
chegou-se ao mestre...
zás! enfiou-lhe na cabeça.
E rápido se foi de
novo ao seu lugar.
O mestre nem abriu
o sonolento olhar.
E aquele aspecto
vil de truão de improviso,
rebentou pela aula
estardalhante riso.
De súbito, surgiu o
diretor, na aula...
esmudou-se lhe o gesto,
estremeceu a fala,
quando ele,
transformando a sua mansidão de boi
em fúria de leão
nos perguntou: "Quem foi?
Quem foi esse vilão
que fez tal brejeirice,
sem respeito nenhum
às cãs desta velhice?
Vamos lá! Sede
leais, verdadeiros e francos,
dizei: quem ofendeu
estes cabelos brancos?"
Mas ninguém
denunciou da brincadeira o autor!
Como um clown
dormia o velho professor!
O diretor, então,
chegou-se junto à mesa...
Via-se-lhe no
rosto, o incômodo, a surpresa,
de que o sono do
mestre assim se prolongasse.
Curvou-se
meigamente e levantou-lhe a face.
Mas recuou
tremendo, aterrado, absorto,
aniquilado e
mudo... O Mestre estava morto.
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021
Mal Secreto Raimundo Correia ( Lembranças Célia Pereira)
Raimundo Correia
Mal Secreto
Se a cólera que espuma, a dor que
mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;
Se se pudesse, o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!
Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo
Como invisível chaga cancerosa!
Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja aventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!
terça-feira, 9 de fevereiro de 2021
Conta e tempo
Conta e Tempo
Frei Antonio das
Chagas (1631-1682)
Deus pede hoje
estrita conta do meu tempo.
E eu vou, do meu
tempo dar-Lhe conta.
Mas como dar, sem
tempo, tanta conta.
Eu, que gastei, sem
conta, tanto tempo?
Para ter minha
conta feita a tempo
O tempo me foi dado
e não fiz conta.
Não quis, tendo
tempo fazer conta,
Hoje quero fazer
conta e não há tempo.
Oh! vós, que tendes
tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso
tempo em passa-tempo.
Cuidai, enquanto é
tempo em vossa conta.
Pois aqueles que
sem conta gastam tempo,
Quando o tempo
chegar de prestar conta,
Chorarão, como eu,
o não ter tempo.