A paisagem está lá, feito um quadro, pintado com todas
as cores da natureza mais exuberante. A lagoa, as montanhas, o mar tudo calmo,
sereno, com brisa. O sol acaricia as paisagens o clima é ameno, outono que
parece se eternizar pelas tardes frescas. A lua no céu e as noites com
temperaturas amenas como se nunca tivesse acontecido aqueles verões asfixiantes
do mês de janeiro. De uma vida que corria numa velocidade comparada a um
caminhão que desce em alta velocidade ladeira abaixo, a freada brusca mundial.
Pandemia. Eu só tinha lido essa palavra quando estudei a gripe espanhola, na
minha infância. E aquilo me parecia tão distante que confesso ter ficado lá nas
aulas de história, acho que na época era mais nas aulas de conhecimentos gerais.
Viver este momento, depois de 45 dias dentro de casa saindo para fazer o
básico, supermercado, farmácia e perceber as ruas vazias e pessoas assustadas
de máscaras, amigos em pânico, a TV que é assustadoramente negativa, Instagram,
facebook e tantas redes sociais com soluções ou com relatos de todos os lados
como enfrentar a pandemia. A crise mundial e a crise política, com um
presidente desnorteado, demitindo o ministro da saúde e assinando a demissão do
ministro da justiça, pasmem, eu estou anestesiada.
Catatônicos
buscamos saídas racionais, emocionais e espirituais. Nossas casas não são
prisões, uma beleza poder, para quem pode ficar em casa. O fato é que nós estamos
amordaçados por um sistema que ruiu e nem mesmo as brigas políticas vão minimizar
a nossa dor. Vivemos num eterno domingo, assim eu sinto. Não existe plano para
o que vai acontecer, estamos completamente no momento presente, como diz uma
amiga; isso já é um presente. Aprendizados constante, arrumar a casa, ler os
livros não lidos, organizar as ideias, no meu caso separar escritos e reler
antigos projetos. Basta uma saída a rua, com máscara, distância das pessoas, álcool
gel, lavar tudo que comprou e produzir comidas e desacelerar o pensamento
novamente depois deste rolê todo. Ginástica em casa para segurar o corpo e
manter a mente sã. Não existe banho de
mar, a polícia prende quem pisar na areia, nem passeio pelas ruas desertas e
ensolaradas, nem chope com amigos, nem comemoração dos aniversários, nem visita
a ninguém. Não podemos trocar afetos em abraços e nem trabalhar em qualquer
espaço que não seja um trabalho home office. Tenho feito mergulhos internos incríveis
e usado as ferramentas que graças ao Universo eu estudei no decorrer da vida e
aprendi muito, mas tenho olhado para o externo e observado os erros que
cometemos juntos. Nem sei para que escrevo tudo isso, acho que é apenas para
tirar da cabeça e colocar no papel.
Denise Portes