As Meninas
Crítica de Barbara Heliodora
RIO - Está em cartaz no Teatro Laura Alvim o charmoso e agridoce texto de Maitê Proença e Luiz Carlos Góes "As meninas". Passado em um original velório, do qual a falecida participa intensamente, o texto é uma descoberta de como diferentes idades e diferentes posições na constituição de um pequeno grupo social reagem e se expressam diante de uma morte, além de tudo violenta.
A estrutura do texto é de modestas ambições, e a grande força do espetáculo vem da vivacidade do diálogo, que é particularmente brilhante na reconstituição - tanto em forma quanto em conteúdo - da primeira adolescência, cuja pitoresca reação aos fatos resulta encantadora. Esse, aliás, é o grande mérito do texto: uma visão crítica de como cada uma (são todas mulheres) expressa, com ligeiro e saudável exagero, o que acredita deva ser seu comportamento diante do acontecido. Só quando todas já disseram o que deviam ou não deviam ter dito, é que a morta pode partir para seu descanso definitivo; que todo o assunto seja tratado com tanto charme e graça é o que torna "As meninas" um acontecimento atraente e original. Que a graça com assunto tão "sério" jamais perca sua elegância e bom gosto é digno de todos os aplausos que na certa o espetáculo irá receber.
Direção de Amir Haddad aproveita elenco talentoso
A encenação é um invólucro mais do que satisfatório para o texto: o cenário de Cristina Novaes tem sua base em outro, o histórico feito por Gordon Craig para o "Hamlet" de Stanislavsky, porém com mais sucesso e propriedade do que este último alcançou. Os figurinos de Beth Filipecki são não só encantadores em si como expressivos do clima onírico da ação, a um tempo no auge da moda e totalmente atemporais, remetendo tudo para uma realidade imaginativa; e tudo é muito bem iluminado por Paulo César Medeiros, que também embarca na fantasia.
A direção de Amir Haddad capta bem o clima do texto, e aproveita as muitas possibilidades que lhe oferecia um elenco talentoso. O único senão é um uso exagerado de canções, que quebram a sequência da ação.
O elenco está exemplar: a morta, Vanessa Gerbelli, domina tudo com uma leveza e um encanto, unidos a um agudo senso de humor, mas isso não diminui o mérito das atuações de Sara Antunes e Patrícia Pinho, que estão ambas deliciosas como a filha da morta e sua melhor amiga, principalmente quando raciocinam para filosofar em bases inesperadas conclusões deliciosas. Analu Prestes está ótima nos exageros da mãe cuja preocupação é desempenhar seu papel em função do que poderão dizer os outros, enquanto Clarisse Derzié Luz se desdobra em vários personagens, principalmente na da falecida bisavó vidente. Um ótimo conjunto.
"As meninas" não tem só risos,e envolve a plateia em toda a sua gama de sentimentos. Assim sendo, é mais do que bem-vinda ao panorama teatral do Rio.
"As meninas" @ Casa de Cultura Laura Alvim. Texto: Maitê Proença e Luiz Carlos Góes. Direção: Amir Haddad. Com Vanessa Gerbelli, Analu Prestes e outros. Em meio a uma série de dúvidas e observações típicas da infância, duas meninas assistem ao velório da mãe de uma delas. Av. Vieira Souto 176, Ipanema - 2332-2015. Qui a sáb, às 21h. Dom, às 20h. R$ 40. Até 20 de setembro.
2 comentários:
Barbara LHE adora!
Eu adoro Barbara Heliodora!
Bjs
Denise
Postar um comentário