Sensibilidade.

Era uma angústia, tipo “um grito parado no ar.”
Umas coisas que mexiam por dentro, fazendo maior confusão. Aquela coisa que sabemos que os adolescentes têm:
Aquele medo de não dar tempo, uma revolução de sentimentos, um não saber me expressar.
Um dia eu consegui falar pra ele, e ele tinha 83 anos.
- Vovô o que é isso que aperta meu peito e que me da essa tristeza?
Ele escorregou os dedos nas teclas do piano, que tinha na sala da sua casa e das notas surgiu uma melodia. Ainda me lembro da sensação de suas mãos enrugadas apertando meus quinze anos, seus olhos azuis que passavam através da minha alma, cada vez que me olhava com doçura. Sorrindo respondeu:
- É o chamado coração poesia, aquele que transborda e molha sentimentos.
- Mas vovô essa sensação de que meu coração é uma ilha, não vai passar?
Depois de uma longa pausa, ele continuou:
- Transforma, deságua move o dom, mas nunca perde o tom na soma das ilusões. “Nem que você bebesse o mar encheria o que você sente no fundo.”
Aquelas palavras, que não eram exatamente assim, grudaram em mim e por anos elas ecoam dentro da minha cabeça.
Voltando a sentar-se ao piano fitou-me com seus olhos, cor de oceano e finalizou como se cantasse o verso de uma música:
- Ouça - me bem querida, a minha sensação de " coração ilha", ainda não passou.

Denise Portes