Meus sonhos nos trilhos.

 Entre as serras onde ouvíamos o apito do trem, eu gostava de passear pela estação e caminhar nos trilhos. Era por aquela estrada cinematográfica que eu sonhava em morar distante, lá perto do mar e entre as montanhas coloridas de uma cidade urbana. Pelas estradas empoeiradas eu ficava sentada esperando o trem aparecer e quando meus olhos avistavam ao longe a Maria Fumaça, eu desenhava uma fantasia de entrar nas cabines de ferro com uma mala enorme e partir para o Rio de Janeiro. "Eu quero ser dentista lá", repetia em um diálogo interno constante. A minha cidade tinha o céu mais perto da terra e as estrelas enfeitam a noite escura como se pudéssemos agarrá-las. Quantos poemas eu escrevi para o céu estrelado e para as noites de lua cheia que iluminavam os trilhos deixando-os ainda mais lindos. Sim, eu realizei meus sonhos de infância e fui feliz com as serras que enchiam meus dias e minhas noites de alegria. Eu descobri muitos anos depois que as minhas esperanças e meus sonhos cresceram e frutificaram entre as serras e naquela locomotiva que apitava ao longe e disparava o meu coração. Aquele apito significava que era possível. Hoje quando tenho dúvidas se vou conseguir algo que muito desejo na vida lá vem a locomotiva atravessando o meu coração. O apito de infância em minha mente me dá a certeza de que vivemos de sonhos e costuramos as fantasias para que elas, de forma quase mágica, aconteçam.

Denise Portes