sábado, 11 de dezembro de 2010

O barquinho de papel.


Estou tentando vencer o final do ano com mantras e flashback da infância. Eu me recuso, terminantemente, a cair no fim do ano influenciada pelo consumismo e comilanças, das festas natalinas. Já bastam os engarrafamentos, a quantidade de gente correndo e a angústia que insiste em “grudar” em todos.
Mais essa revolta da natureza, que nos deixa estatelados, olhando o mundo completamente descrente da recuperação do planeta.
Hoje, me lembrei de um natal que passamos numa fazenda de um amigo do meu pai. Tinha árvore de natal e ceia, mas os dias que antecederam ,transcorriam na mais perfeita tranqüilidade, não tinha TV, apenas luzes de lampião e conversas em volta da mesa.
Minha mãe resolveu nos ensinar a fazer barquinhos de jornal, depois de ler “O soldadinho de Chumbo.”
Éramos seis crianças fazendo aula para o grande campeonato dos barquinhos. Jornal, um tubo de cola e lápis de cor. Era tanta alegria na confecção do lindo barco, risadas, crianças emburradas achando o seu barco o mais feio. Minha mãe circulava feliz, ajudava um aqui e refazia outro ali. Tudo pronto. Marchamos feito soldadinhos até a cachoeira e escolhemos um lugar onde a correnteza era leve. O céu ficou cinza e o cheiro de chuva exalava da terra, o vento soprava cada vez mais forte perto da cachoeira. Foi dada a largada, colocamos juntos os barquinhos na água. A torcida era grande.
Próximo a chegada à chuva apertou.Pingos grossos começaram a cair forte sobre os pequenos barcos, que encharcados iam entortando e desmanchando. A torcida foi ficando muda.
Os relâmpagos cortaram o céu, com força, próximos a cachoeira. Minha mãe, eterna Polyana, disse:
-"Acho que papai do céu gostou de todos os barcos, mandou uma chuva bem forte, para que todos os soldados fossem vencedores. Hora de comemorar. Vamos ao nosso lanche de natal, tem bolo xadrez com cobertura de chocolate, hora do amigo oculto, marchem soldados."
Cortando os caminhos da mata, completamente ensopados de água e alegria, ouvindo o trovão que insistia em nos lembrar à hora de voltar para casa. Caminhamos em direção à fazenda, enquanto nossos barcos afundavam na cachoeira.
Era dia de natal, muitas vezes lembranças como essa, faz esse dia um dos dias mais importantes de nossas vidas!

Denise Portes

Pra minha mãe que me ensinou que" Felicidade se acha é só em horinhas de descuido."

6 comentários:

Look by me disse...

Adorei...bj

Helcio Maia disse...

Sábias palavras da sua mão, Denise. E, assim, descuidemo-nos, desarrumemos nossos cuidados, para que fiquemos mais soltos, mais livres, mais vencedores, mais aptos às celebrações, que a chuva molhe bastante nossas idéias, irrigando nossos sentimentos, que nossos barquinhos naveguem, soberanos, pelo oceano de possibilidades que é esta vida.

Néia Lambert disse...

Recordar é viver! uma delícia essas suas lembranças Denise.
Um beijo minha querida.

Lara Mello disse...

Essa infância linda não existe mais..Vai chamar uma criança dessa para fazer barquinho de papel..Acho que seriamos lixadas! Bju

Leandra Bárbara disse...

Lindo!!!Lembranças de infância sempre nos fazem muito bem.Esse texto tem uma doçura que nos faz recordar momentos lindos e únicos.Obrigada por me oportunizar uma leitura significativa e maravilhosa..Bjn!!!

Anônimo disse...

Denise, que texto mais lindo, singelo! Pude imaginar tudo que descreveu :)
"Soldadinho de chumbo" é uma das histórias que mais gosto!
Beijos e tenha uma linda semana =*