Coisas terminam. Entre filmes assistidos, séries preferidas, jantares
compartilhados. Coisas desaparecem como se nunca tivessem existido. Evaporam,
simplesmente. É como seu desodorante que acaba e você compra outro. Coisas
descartáveis. Tempos descartáveis. Assuntos descartáveis e ninguém cala a boca
por um segundo. Palavras inúteis. Pensamentos inexpressivos. Olhos que mentem.
Línguas que se movimentam descompassadas.
É como uma música que embora você escute, insista em dançar num outro ritmo.
Você não concordou com aqueles termos daquela coisa. Ainda assim seguiu
dançando sozinho. Você ouviu o que seria, mas dançou sozinho.
Coisas continuam. Não importa se mutiladas, ou não. Elas seguem seus fluxos
cambaleantes, desmoronando no percurso. Seguem jurando-se firmes, não importa
se doam ou não. As vezes se prefere abandonar coisas pela dor de voltar atrás,
enquanto ainda se podia. Coisas que agora não voltam mais. Sumiram no ato da
escolha.
Eu sonhei, mas não lembro o que. Poderia jurar que foi ontem. Não lembro o
que. Acordei no meio da noite, assustado, acho que tive um pesadelo. Eu sonhei
alguma coisa. Quero lembrar o que é, mas só há a sala do apartamento vazia, um
cheiro de saudade misturado com café amargo e açúcar orgânico granulado. A
imagem granulada de um dia distante, como uma foto de computador em péssima
resolução. Eu poderia jurar que já estive ali, sentei naquele sofá, ri naquela
varanda, dormi naquele quarto, transei por aquele apartamento, mas a imagem
está desfocada e eu não reconheço mais nada.
Eu podia jurar que tudo isso foi ontem, mas ontem foi que dia? Eu já não me
lembro mais. Eu podia jurar que você ainda estava do meu lado. A cama continua
quente, o lençol amassado. Os travesseiros jogados no chão. Seu corpo no meu,
colado. Eu podia jurar que meu corpo estava como esmagado pelo seu. Porque você
era tão abraçavel e eu inventei essa palavra pra descrever como você era.
Parece que foi ontem, mas ontem foi que dia? Eu podia jurar...
Por: Felippe Vaz
terça-feira, 1 de setembro de 2015
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