Com quinze anos eu achava que era o meio do caminho,
quanta adolescência, pureza e confusão de pensamentos! Entre as montanhas da
minha cidade mineira o horizonte era o céu que de tão perto da terra me fazia
sonhar com outros lugares. O Rio de Janeiro era longe e enorme para o tamanho
dos meus sonhos, mas eu acreditava no que sonhava. Pai e mãe nem sabiam de
tantos desejos, eu era uma menina criada no interior entre as flores, pureza,
fazenda, animais, bicicleta, vários amigos, o céu estava sempre em festa e não
poderia existir infância mais bonita. Nenhum problema só amor de família e
amigos. Os namorados mais lindos, o cinema pequeno com sua tela enorme, a
televisão, preto e branco com papéis coloridos na frente. Os livros, o desejo
de ser dentista e a alma de poeta foi rasgando meus caminhos até que a chegada
de um irmão mais novo transformou as atenções da minha mãe extremamente amorosa
e ansiosa que não percebeu que a adolescência mudou meu olhar para aquele lugar
que eu ocupava. Sozinha em minhas transformações, tudo mudava cotidianamente
dentro e fora de mim, comecei a pensar um jeito de colocar a mochila nas costas
e seguir para o Rio de Janeiro. Não me deixaram ir, meu pai que morou três anos
no Rio achava impossível que as minhas asas voassem para tão distante e o
máximo que consegui foi Juiz de Fora em uma república onde morava uma prima
ajuizada, Katita. E assim foi feito, lá estava eu numa cidade média, perdida,
sem amigos, sem pais ou irmãos e nem pensava que era corajosa, eu só me joguei
e daí pra frente à vida foi escrita por minhas escolhas e a ajuda de um anjo da
guarda que nunca me abandonou.
A culpa de estar distante da família e crescer tão
longe dos meus pais só bateu a minha porta muitos anos depois. A admiração pela
coragem que tive também demorou a chegar, não existia medo, apenas
determinação. Ainda tive que viver um ano em Niterói para chegar à cidade, que
naquela época sim era maravilhosa. Fiz por todos esses anos uma rede de amigos
e posso dizer que tenho sorte, encontrei muitas pessoas boas pelo caminho.
A minha cidade pequena cresceu e não tem mais a
ternura e o glamour de uma cidade do interior e o enorme relógio da praça
parece que diminuiu, não existe mais o cinema, nem o Pilão, o importante
restaurante da época. Os amigos que fiz por lá, eu reencontrei muitos queridos
nas redes sócias. Alguns amigos amados morreram, outros parecem que o tempo não
passou. Como é linda e cruel a vida. A igreja, o clube, a casa dos meus pais e
nem mesmo os meus pais estão mais lá, mas um pedaço do meu coração se eternizou
ali é como um reflexo condicionado. Todas as vezes que eu corto as montanhas da
minha antiga cidade e o céu vai se aproximando da terra todos os melhores
sentimentos crescem dentro de mim.
Denise Portes
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