terça-feira, 31 de julho de 2018

Saindo de casa em 1977.

Com quinze anos eu achava que era o meio do caminho, quanta adolescência, pureza e confusão de pensamentos! Entre as montanhas da minha cidade mineira o horizonte era o céu que de tão perto da terra me fazia sonhar com outros lugares. O Rio de Janeiro era longe e enorme para o tamanho dos meus sonhos, mas eu acreditava no que sonhava. Pai e mãe nem sabiam de tantos desejos, eu era uma menina criada no interior entre as flores, pureza, fazenda, animais, bicicleta, vários amigos, o céu estava sempre em festa e não poderia existir infância mais bonita. Nenhum problema só amor de família e amigos. Os namorados mais lindos, o cinema pequeno com sua tela enorme, a televisão, preto e branco com papéis coloridos na frente. Os livros, o desejo de ser dentista e a alma de poeta foi rasgando meus caminhos até que a chegada de um irmão mais novo transformou as atenções da minha mãe extremamente amorosa e ansiosa que não percebeu que a adolescência mudou meu olhar para aquele lugar que eu ocupava. Sozinha em minhas transformações, tudo mudava cotidianamente dentro e fora de mim, comecei a pensar um jeito de colocar a mochila nas costas e seguir para o Rio de Janeiro. Não me deixaram ir, meu pai que morou três anos no Rio achava impossível que as minhas asas voassem para tão distante e o máximo que consegui foi Juiz de Fora em uma república onde morava uma prima ajuizada, Katita. E assim foi feito, lá estava eu numa cidade média, perdida, sem amigos, sem pais ou irmãos e nem pensava que era corajosa, eu só me joguei e daí pra frente à vida foi escrita por minhas escolhas e a ajuda de um anjo da guarda que nunca me abandonou.
A culpa de estar distante da família e crescer tão longe dos meus pais só bateu a minha porta muitos anos depois. A admiração pela coragem que tive também demorou a chegar, não existia medo, apenas determinação. Ainda tive que viver um ano em Niterói para chegar à cidade, que naquela época sim era maravilhosa. Fiz por todos esses anos uma rede de amigos e posso dizer que tenho sorte, encontrei muitas pessoas boas pelo caminho.
A minha cidade pequena cresceu e não tem mais a ternura e o glamour de uma cidade do interior e o enorme relógio da praça parece que diminuiu, não existe mais o cinema, nem o Pilão, o importante restaurante da época. Os amigos que fiz por lá, eu reencontrei muitos queridos nas redes sócias. Alguns amigos amados morreram, outros parecem que o tempo não passou. Como é linda e cruel a vida. A igreja, o clube, a casa dos meus pais e nem mesmo os meus pais estão mais lá, mas um pedaço do meu coração se eternizou ali é como um reflexo condicionado. Todas as vezes que eu corto as montanhas da minha antiga cidade e o céu vai se aproximando da terra todos os melhores sentimentos crescem dentro de mim. 

Denise Portes

Nenhum comentário: