segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Texto Júlia Portes


Eu já comprei livros que não li
E alfaces que não comi
Não faço mais.
Agora, pego emprestado
A adrenalina de não devolver o alface disponibilizado, me faz comer
Antes que estrague 
Antes que apodreça,
na prateleira,
Todas as letras inutilizadas pelos meus olhos,
Pelo meu medo de comer e emagrecer,
E assim, me encaixar em tudo que eu achava que era certo desmerecer.
Por insuficiência de livros lidos
Quem foi que inventou a quantidade certa?
Clarice, Henry ou Kundera?
Todos parados na minha estante comendo a alface temperada do hambúrguer de ontem.
E eu? 
Fico com vertigem só de olhar para todos eles prestes a se jogar
Da ponta da estante,
Da geladeira,
que toda vez que eu abro eu penso que vão estragar 
Os buquês de flores que meu pai me deu 
Em cima da mesa
Meu pai, que com todas suas indelicadezas
Comprou flores
Pra gente comer juntos de sobremesa
Logo hoje, que me contaram que em alguma simbologia japonesa
Flor é filho
Quantas flores você imagina no meio do seu deserto? 
Uma só. 
Fica no alto da escada da minha casa
Que eu subo pa pegar a toalha
Que está mal guardada
Senão tivesse, eu não teria que subir na escada
Para achá- la
E lá vem você dizer que não
que o problema é a minha estatura
Que se eu fosse mais alta 
Comeria a alface
A macarronada
Leria mais 
porque subir na escada
É problema pra gente baixa
Se eu fosse longa, pegar a toalha 
Seria coisa de benevolência executável 
Para mim e pra você 
Que menos que eu, tem 1,45 cm.
Você só comia rúcula 
Enquanto o meu alface estragava geladeira que está com problema de congelar demais as coisas.
Se trocar uma peça, volta a funcionar.
No caso de gente, qual peça eu devo trocar?
Digo, no caso de congelar.
Você diz que não sabe e fica lá parado olhando pro celular.
Tentativas de rima.

Júlia Portes

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