sábado, 18 de novembro de 2017

Texto Júlia Portes


Eu escrevo para agora não estar comendo, bebendo, fumando ou talvez brigando com gente na rua
Minha crueldade não foi treinada para ir além disso
Eu escrevo para transformar peninha de mim ou do resto mundo em alguma coisa que parte de mim acha que pode ser relevante 
Mas eu venho duvidando
Duvidando de coisas boas e justas
Nesse momento, meu cachorro, a criatura mais meiga que conheço, chora. 
Chora, pois já não consegue subir no sofá.
No meu sofá, eu tenho um sofá e isso é luxo.
Eu não queria um amor, eu queria que meus ex amores se saíssem melhor na vida. Eles poderiam criar um grupo no WhatsApp e combinar uma vaquinha pra me dar um sofá novo.
Meu cachorro destruiu meu sofá. 
Eu não tenho os olhos tristes que os meus ex amores tem, eu tenho mais alegria no olhar. 
Os olhares mudam ao longo da vida de uma mesma pessoa? 
Pq os loucos falam tantas frases de cunho religioso? 
Eu tenho acreditado que devemos simplificar frases para que todos possam falar a mesma língua 
A favor da democratização da língua!
Tenho medo de frases de cunho político 
Então, você pode levar isso como algo de cunho sexual.
Tenho medo de errar
Ofender
Discutir 
Tô cansada dos assuntos
O silêncio que me habita deve estar animado com isso 
Finja: nós dois numa mesa de bar e eu tiro uma lista de perguntas: Sobre o que podemos falar? - É o nome do questionário.
Poderíamos fazer metáforas sobre os corredores dos prédios 
Ou sobre escadarias 
Um poema de cimento
De óleo de cozinha 
Eu aprendi a fazer risoto sem queijo e com arroz integral
Disseram que isso não é risoto
A Bela Gil disse que é.

Júlia Portes

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