quarta-feira, 30 de junho de 2021

A morte de Josimar.

  Ela morreu do coração, foi assim que eu recebi a noticia, eu nunca tinha perdido uma amiga. Naquela época, o velório acontecia dentro das casas nas pequenas cidades do interior mineiro. O caixão no centro da sala e os familiares sentados nas cadeiras, outros em pé, olhando consternado o rosto do falecido, enquanto enxugavam suas lágrimas em lenços de pano.

Era outono e as folhas das árvores, de cor marrom e vinho tomaram toda a praça na frente da casa da família e um vento desconhecido, soprava leve e depois forte, fazendo uma sintonia harmônica que embalou a saída de todos a caminho do cemitério.

Pela primeira vez, eu tinha 19 anos, o cotidiano descrito se misturou com a emoção do momento vivido e eu passei a ser só sentir. A racionalidade deixou de ser importante e eu nunca mais desvalorizei a intensidade dos meus sentimentos.

Era preciso deixar que a emoção e a espiritualidade me guiassem rumo ao meu acreditar na vida, a ser poeta, intensa, louca e sem pouso, pois o existir da alma gritava em mim.

As folhas que voavam pela praça e se misturavam as árvores me embalavam no acreditar do propósito da minha vida que a morte de uma grande amiga me fez ver o meu existir, finitude e renascimento.

Este tempo já distante, nunca mais me deu possibilidade, ainda bem, de voltar a ser racional. Enquanto renascia e eternizava a verdade de ser só sentimento eu via o caixão da amiga que eu amava finalizar a sua jornada.

Denise Portes

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