Ela morreu
do coração, foi assim que eu recebi a noticia, eu nunca tinha perdido uma
amiga. Naquela época, o velório acontecia dentro das casas nas pequenas cidades
do interior mineiro. O caixão no centro da sala e os familiares sentados nas
cadeiras, outros em pé, olhando consternado o rosto do falecido, enquanto
enxugavam suas lágrimas em lenços de pano.
Era outono e as folhas das árvores, de cor marrom e
vinho tomaram toda a praça na frente da casa da família e um vento desconhecido,
soprava leve e depois forte, fazendo uma sintonia harmônica que embalou a saída
de todos a caminho do cemitério.
Pela primeira vez, eu tinha 19 anos, o cotidiano
descrito se misturou com a emoção do momento vivido e eu passei a ser só
sentir. A racionalidade deixou de ser importante e eu nunca mais desvalorizei a
intensidade dos meus sentimentos.
Era preciso deixar que a emoção e a espiritualidade
me guiassem rumo ao meu acreditar na vida, a ser poeta, intensa, louca e sem
pouso, pois o existir da alma gritava em mim.
As folhas que voavam pela praça e se misturavam as
árvores me embalavam no acreditar do propósito da minha vida que a morte de uma
grande amiga me fez ver o meu existir, finitude e renascimento.
Este tempo já distante, nunca mais me deu
possibilidade, ainda bem, de voltar a ser racional. Enquanto renascia e
eternizava a verdade de ser só sentimento eu via o caixão da amiga que eu amava
finalizar a sua jornada.
Denise Portes
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