Eu não estou triste porque estou em casa, nem porque
não vou poder ver meus amigos por um tempo, nem mesmo porque não vou poder trabalhar
no meu consultório.
Minha tristeza tem raízes profundas do descaso da
população pelo planeta, pelos lixos que há anos entopem os bueiros, pela
poluição da praia e da água podre que saiu nas torneiras do Rio de Janeiro,
pelos hospitais públicos que há anos pedem socorro. Pelas latas atiradas nas
ruas, os mendigos dormindo nas calçadas de Copacabana por onde circulam ratos,
pela violência urbana. Minha tristeza é assistir o rompimento da barragem de Brumadinho
e a destruição da chuva que varre cidades e cai sobre a cabeça da população
mais pobre.
Eu choro ao assistir a Itália cantar nas varandas e a
população que tem que assistir tanta gente morrer e não ter onde enterrar seus
mortos.
Hoje eu choro pela enorme população desprovida de
dinheiro para comprar sabão e por não ter nem sua casa para ficar.
Eu compreendo que o planeta terra nos deu tanto e tão
pouco fizemos por ele.
Quando minha filha era pequena e fazia algo que eu precisava
corrigir eu a colocava no de castigo e dizia:
Vai ficar lá no seu quarto e procura no cantinho dos
seus pensamentos o que você fez.
A Terra exausta das nossas agressões espirrou um
pequeno vírus e colocou todos os países em casa para pensar.
Que este momento nos faça voltar mais fortes e pedir
perdão ao planeta por todas as grosserias que fizemos com ele.
Denise Portes
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