Ainda não eram 7
horas da manhã quando comprei o pão e paguei a ela, que seria como sempre, me
devolveu o troco e me desejou bom dia. Já fazia alguns meses que eu a
observava, na verdade, desde que passei a frequentar a padaria eu a achará mal-humorada.
Até que um dia cruzei com ela no meio da rua e sem que ela me visse a observei,
andava com dificuldade, pois tinha problema nas pernas, além de um excesso de
peso. Ela estava elegante, como sempre, maquiada e discretamente arrumada os
colares grandes eram os que mais realçavam. Fomos melhorando nossa relação, criada
por minha observação. Teve um dia que ela me chamou de moça e eu aproveitei
para criar laços e dizer que fazia anos que ninguém me chamava assim e ela
sorriu.
Um dia eu ganhei um
presente da namorada de uma amiga, veio dentro de uma caixa enfeitada, um colar
com uma grande pedra branca tudo criado por ela. Quando abri a caixa
imediatamente pensei: este presente é de Marizete.
Sou lenta para
demonstrar meus afetos, o que em minha adolescência vinha com total
espontaneidade hoje eu preciso pensar e esperar o momento certo, coisas da
idade, eu acho. Até que numa manhã linda de um dia qualquer lá fui
eu comprar meu pão, nem imaginei que fosse vê-la, quando atravessei a padaria
lá estava ela elegantemente vestida com seu batom e um belo colar no pescoço.
A cena de sempre se
repetiu e eu fui para casa pensando que o dia era hoje e que a hora era agora.
Peguei o colar dentro da caixa e fiz um embrulho estilo saquinho numa seda
preta e parti para padaria.
Na frente do seu
balcão eu perguntei:
- Como é seu nome?
- Marizete.
- Quando você faz
aniversário?
- 22 de setembro.
- Então hoje e dia
do seu desaniversário e eu quero dizer a você que ganhei um presente que me
lembrou de você no primeiro momento que o recebi.
- Ela ficou me
olhando sem entender muito bem o que eu estava falando e eu estiquei os braços
e entreguei o saquinho a ela. O rosto dela se transformou num grande sorriso,
ela mostrava o quanto seu braço estava arrepiado e levantava o colar mostrando
as amigas do balcão do outro lado. Esticou as mãos e as apertou dentro das
minhas e com os olhos cheios de água repetia: muito obrigada, muito obrigada.
Fui saindo sem saber o que fazer. Ela colocou o lenço preto no pescoço e disse:
Posso usar assim.
Sorrimos e eu fui
embora aos prantos pensando que talvez fizesse muito tempo que a Marizete não
ganhava um presente.
Denise Portes
Nenhum comentário:
Postar um comentário