quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Júlia e sua poesia.



De tudo que eu faço só pra ser
Só pelo excesso (de poder existir)
As coisas que eu estou inventando só pra desinventar outras ou por um presente de desaniversário
O corretor substitui desinventar por desinfetar
Que também poderia ser desafetar
Desinvento o tempo inteiro e a palavra não existe
Por todas as coisas que não existem e eu ainda existo
Por entender alguma coisa no meio de tanto
Pelas memórias construídas, porém não vividas
Pelas expectativas com data pra pousar
Pela lembrança de que estou quase esquecendo que me faz lembrar de tudo
Das palavras pela metade
Das sensações inteiras
Da falta de jeito
Dos nomes não ditos
Das histórias não vividas
Do passado compartilhado
Das coisas estragadas
Dos cheiros trocados
Das frases trocadas
Dos pedaços de vida trocados
Dos pratos divididos
Das minhas primeiras vezes
Das tuas tantas vezes
Das nossas vezes
Das risadas
Do choro que nunca tinha vazado
Do choro que vazou
Do medo que vazou
Da distância que ficou real
Da ligação que caiu
Da foto que quase tirou
Da vida que não viveu
Da luz que queimou
De tudo que acabou.
Júlia Portes

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