quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

PLUTÃO - OLAVO BILAC

Negro, com os olhos em brasa,

Bom, fiel e brincalhão,

Era a alegria da casa

O corajoso Plutão.

 

Fortíssimo, ágil no salto,

Era o terror dos caminhos,

E duas vezes mais alto

Do que o seu dono Carlinhos.

 

Jamais à casa chegara

Nem a sombra de um ladrão;

Pois fazia medo a cara

Do destemido Plutão.

 

 

Dormia durante o dia,

Mas quando a noite chegava,

Junto à porta se estendia,

Montando guarda ficava.

 

Porém Carlinhos, rolando

Com ele às tontas no chão,

Nunca saía chorando,

Mordido pelo Plutão...

 

Plutão velava-lhe o sono,

Seguia-o quando acordado:

O seu pequenino dono

Era todo o seu cuidado.

 

Um dia caiu doente

Carlinhos... junto ao colchão

Vivia constantemente

Triste e abatido, o Plutão.

 

Vieram muitos doutores,

Em vão. Toda a casa aflita,

Era uma casa maldita,

Era uma casa de dores.

 

Morreu Carlinhos... A um canto,

Gania e ladrava o cão;

E tinha os olhos em pranto,

Como um homem, o Plutão.

 

Depois, seguiu o menino,

Seguiu-o calado e sério;

Quis ter o mesmo destino;

Não saiu do cemitério.

 

Foram um dia à procura

Dele. E, esticado no chão,

Junto de uma sepultura,

Acharam morto o Plutão.

 

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